sexta-feira, 29 de julho de 2011

As tecnologias deixam as pessoas mais alternativas? fico me perguntando

Acabei de chegar exatamente ás 21:53h em casa para registrar uma observação, por que não dizer um acontecimento que foi o grande evento "CAPELLA BYDGOSTIENSIS, Orquestra de Câmera da Polônia" no Teatro Carlos Gomes aqui em Vitória. Sob a regência do maestro brasileiro José Maria Florêncio considerado uma das principais orquestras de câmera da Polônia. Tudo bem mas meu registro, é com um olhar atento e claro o que as tecnologias têm a ver com isso? ou melhor o que as pessoas alternativas têm a ver com tecnologia e a orquestra? foi nessas questões que também estou me baseando para esse relato, por assim dizer, vejo que se eu quero ser um publicitário tenho que primeiramente sair da zona de conforto, por exemplo eu não toco nenhum instrumento, muito menos sei alguma coisa sobre orquestra e ainda Polonesa, mas percebo que para caminhar nesse mundo da comunicação e com habilitação para a publicidade procuro conhecer toda forma de conhecimento possível que poderia me dar indícios de uma novidade, de algo que se produza e de preferência que se consuma pois é disso que vive a profissão de um publicitário certo? alguma coisa que se venda, que atraia o público não? isso, esse é o ponto onde quero chegar com essa espécie de teoria, lebrando que esse concerto a entrada era franca você pode então estar se perguntando cadê o consumo ô grande protótipo de publicitário? dessa forma me procupei não na questão se o concerto era R$10,00 reais ou R$20,00 reais mas sim qual público iria encher aquele concerto que diga-se de passagem estava lotado, qual é o perfil das pessoas em Vitória que vão assistir uma orquestra de câmera da Polônia? a primeira palavra que me caberia ao pensar nessa pergunta e que me viria a cabeça é alternativo? mas então o que é uma pessoa alternativa? digo o que é ser uma pessoa então alternativa? olha vou então contar a vocês minha observação que durou cerca de uma hora ao chegar na fila para pegar o ingresso que era de graça na bilheteria e esperar a hora de poder entrar no teatro, logo ali voltando ao começo percebi que existia todos os tipos de pessoas, é pessoas que estavam voltando do trabalho e queria ver um show com a sua mulher, ou seu marido, ou com seu amigo, mas pessoas que também como eu jovem estava ali como foi um dos comentários do consumidor: "não tinha nada pra fazer ne vamos" ok até ai tudo bem mas cadê a tecnologia nisso tudo? é que essa parte eu não contei vou contar agora, antes voltando um pouco a história, na fila já com o ingresso na mão, tinha na minha frente um jovem como eu de bermuda exatamente como eu estava mas com uma diferença no modo de vestir eu estava com uma regata da nike branca e ele estava com uma camisa azul, de manga, há, o tênnis dele era preto também adidas, o meu é da Olympikus cor cinza, bom mas o que me fez mais chamar a atenção é que esse rapaz que aparentava ter uns 20 anos jovem, estava jogando no seu celular, antes de abrirem a porta do concerto, ele estava jogando um jogo de carro estilo "Fórmula 1" assim isso prova uma teoria, heeheh, se lá era um lugar alternativo, a tecnologia estava ajudando ele a ser alternativo não? claro que sim, claro que não, em fim acho que esse show apesar de eu não entender nada de orquestras me fez parar e com um olhar de publicitário refletir, como se fosse por um instante um antropólogo com suas pesquisas, isso estava ali querendo saber um pouco da metafísica, de entender a mente desses consumidores que estão cada vez mais relacionando com as tecnologias desde cedo e interagindo um com outro numa mudança contínua, que só pessoas com sensibilidades são capazes de perceber como o consumo pode alterar nossa trajetória, como ele pode fazermos felizes por um instante e como faz estarmos grudados o tempo todo com esses celulares,notbooks,mp3,mp4,ipods, há lembrei de outra coisa, o outro rapaz mais a frente estava com a namorada e usando um tennis da nike, o Alstar, será que esse também é um indício de ali ser um lugar alternativo, veja se partirmos do pressuposto que os tennis Alstars são alternativos creio que sim, porém além disso tudo uma conclusão acho que pode ser feita ninguém faz nada hoje em dia, se não está assistindo a peça no teatro, está na fila jogando com seu celular.

terça-feira, 26 de julho de 2011

"Religião não define caráter" outdoors polêmicos em Porto Alegre / FOLHA, 27 DE JULHO








"Religião não define caráter." "Somos todos ateus com os deuses dos outros." Com mensagens como essas, outdoors elaborados por uma associação que reúne ateus começaram a ser espalhados por Porto Alegre.
O objetivo, segundo a entidade, é combater o preconceito contra quem não acredita em nenhum deus.
A campanha já vinha sendo realizada em diversos países, com anúncios em ônibus, há dois anos.
No Brasil, a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos diz que empresas de transporte de Porto Alegre, Salvador, Florianópolis e São Paulo rejeitaram a proposta de publicidade, feita no final do ano passado.
Os motivos alegados eram desde conteúdo ofensivo até o veto a mensagens que estimulem a "discriminação de credo". "Chegamos a contratar o serviço. Mas, na última hora, disseram que não ia rolar", conta o presidente da entidade, Daniel Sottomaior.
A solução encontrada foi usar os outdoors convencionais. Quatro já foram fixados por ruas da capital gaúcha. O gasto, estimado em R$ 7.000, foi bancado por doadores da entidade. Porto Alegre é a primeira capital no país a receber a iniciativa. A expansão para outras cidades vai depender de mais doações.
A campanha gerou polêmica em outros países. Na Inglaterra, em 2009, foram publicadas mensagens dizendo: "Deus provavelmente não existe". A associação brasileira diz que a iniciativa busca a "igualdade plena" entre ateus e religiosos.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Crescem o consumo de drogas psiquiátricas entre crianças e idosos / FOLHA, 25 DE JULHO

Drogas psiquiátricas já respondem por metade das de uso controlado no país

Indicação desse tipo de remédio para tratar demências pode levar a quedas, derrames, diabetes e morte

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

Estamos nos tornando uma nação de psicóticos?
A questão que tem inflamado debates nos EUA, por conta do aumento no uso de drogas antipsicóticas, chegou ao Brasil. Essa classe terapêutica já é uma das mais comuns entre as de venda controlada por aqui.
Dados de um recente boletim divulgado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) mostram que a maior parte (44%) dos 143 tipos de medicamento controlado à venda no país servem para tratar transtornos mentais e comportamentais. Os antipsicóticos, indicados principalmente para esquizofrenias e transtornos bipolar e maníaco-depressivo, respondem por 16,1% do total. Os antidepressivos vêm em seguida, com 15,4%.
A Anvisa não sabe informar quantas unidades de cada produto foram vendidas nem a frequência do consumo. O mercado de antipsicóticos movimentou R$ 306,8 milhões nos últimos 12 meses, segundo a IMS Health, consultoria especializada na indústria farmacêutica. Especialistas dizem observar um crescimento na indicação de antipsicóticos na infância, na adolescência e na velhice, seguindo a tendência norte-americana.
Segundo estudo da Universidade Columbia (EUA), as receitas de antipsicóticos para crianças de dois a sete anos, para tratar doenças como transtorno bipolar, dobraram de 2000 a 2007. Estima-se que 500 mil crianças nos EUA usem essas drogas.

SEM INDICAÇÃO
O psiquiatra Theodor Lowenkron, da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, reconhece que o uso dos antipsicóticos tem provocado controvérsia, mas defende que os medicamentos, quando bem indicados, podem ser usados na infância, na adolescência e na velhice. "Tem que haver transtorno mental com sintomas psicóticos. E a indicação nesses casos deve ser feita com muita cautela, com doses menores comparadas às dos adultos."
A pediatra Ana Maria Escobar, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, conta que é cada vez mais frequente a indicação de remédios para crianças, mesmo quando não há um distúrbio psiquiátrico.
"Atendi um menino que já estava tomando remédio para deficit de atenção, mas o que ele tinha era um problema auditivo. Não aprendia porque não ouvia."

RISCOS
Embora a prescrição de antipsicóticos não tenha sido aprovada para idosos com demência ou psicose relacionada com demência, o uso desses medicamentos tem aumentado entre os mais velhos, especialmente aqueles internados em asilos.
Segundo a psiquiatra Ana Cecília Marques, da Unifesp, a indicação de antipsicóticos para tratar demências tem várias restrições em razão dos efeitos adversos.
"Eles podem causar muitos danos aos idosos, como a redução da pressão arterial, que pode levar a quedas."
Vários estudos sugerem que os antipsicóticos aumentam o risco de diabetes, derrame, pneumonia e morte em idosos com demência.
Na opinião de Marques, são três as explicações para o aumento na prescrição de antipsicóticos: a busca por resoluções rápidas para conflitos, a preferência dos psiquiatras por indicar remédios a investir em terapias mais demoradas e o assédio da indústria farmacêutica nessa área.
"A indústria farmacêutica pode estimular o uso excessivo ou desnecessário dessas drogas, mas os órgãos reguladores devem coibir isso", diz Theodor Lowenkron.

domingo, 24 de julho de 2011

Apologia da preguiça / FOLHA, 24 DE JULHO

RESUMO
Em tempos de tecnociência, permanece irrealizada a utopia da libertação do homem pelas máquinas: nunca se trabalhou tanto, e o tempo livre jamais esteve tão fora da pauta. Ora estigmatizado na ordem produtiva, ora exaltado na tradição filosófica, o preguiçoso é hoje o símbolo do tempo livre para o pensamento.

ADAUTO NOVAES

O trabalho deve ser maldito, como ensinam as lendas sobre o paraíso, enquanto a preguiça deve ser o objetivo essencial do homem. Mas foi o inverso que aconteceu. É esta inversão que gostaria de passar a limpo.
Malevitch, "A Preguiça como Verdade Definitiva do Homem"

SABE-SE QUE uma única palavra é suficiente para arruinar reputações e, entre todas, preguiça é uma das mais suspeitas e perigosas. Ao longo dos séculos, foi carregada de significações contraditórias e impressionantes variações.
Dela decorre longo cortejo de acusações bizarras, mas também sabe ser tema de obras de arte, poesia, romance, pinturas, reflexões filosóficas: o preguiçoso é indolente, improdutivo, nostálgico, melancólico, indiferente, distraído, voluptuoso, incompetente, ineficaz, lento, sonolento, silencioso. Preguiça e trabalho guardam um misterioso parentesco, quase simétrico e especular.
Para o preguiçoso, "é preciso ser distraído para viver" (Paul Valéry), afastar-se do mundo sem se perder dele; exatamente por isso, é acusado de não contribuir para o progresso.
Além de praticar crime contra a sociedade do trabalho, o preguiçoso comete pecado capital. Pela lógica do mundo do trabalho e da igreja, ele deve sentir-se culpado, pagar pelo que não faz.
Mais: pensadores como Lafargue, Stevenson, Bertrand Russell, Jerome K. Jerome, Marx e Samuel Johnson apostaram no desenvolvimento técnico como possibilidade de liberação do trabalho. Erraram: na era da tecnociência, nunca se trabalhou tanto e nunca se pensou tão pouco. Assim, o espírito tende a se tornar coisa supérflua.

O QUE FAZER Ao pensar sobre o fazer, o ocioso pode prestar um grande serviço e ajudar a responder à velha questão moral: o que devo fazer? Dependendo da resposta, teremos diferentes definições do que seja o homem, a política, as crenças, o saber, nossa relação com o mundo, e, principalmente, nossa relação com o trabalho. A resposta pode nos dizer não apenas o que fazemos mas também o que o trabalho faz em nós.
Hoje, maravilhosas máquinas "economizam" o trabalho mecânico, mas criam novos problemas: primeiro, uma espécie de intoxicação voluntária, isto é, "mais a máquina nos parece útil, mais ela nos torna incompletos" (Valéry).
A máquina governa quem a devia governar; daí decorre o segundo problema, bem mais complexo: tantas potências auxiliares mecânicas tendem a reduzir "nossas forças de atenção e de capacidade de trabalho mental", o que se relaciona à impaciência, à rapidez e à volatilidade nunca antes vistas.
Assim escreveu Paul Valéry (1871-1945): "Adeus, trabalhos infinitamente lentos, catedrais de 300 anos cuja construção interminável acomodava curiosas variações e enriquecimentos sucessivos... Adeus, perfeições da linguagem, meditações literárias e buscas que tornavam as obras ao mesmo tempo comparáveis a objetos preciosos e a instrumentos de precisão!
[...] Eis-nos no instante, voltados aos efeitos de choque e contraste, quase obrigados a querer apenas o que ilumina uma excitação de acaso. Buscamos e apreciamos apenas o esboço, os rascunhos. A própria noção de acabamento está quase apagada".

MONTAIGNE Valéry retoma uma tradição. Lemos em Montaigne (1533-92) que "a alma que não tem um fim estabelecido perde-se. Porque, como se diz, estar em toda parte é não estar em lugar algum". Aqui, entendemos por alma o "trabalho teórico do espírito", potência de transformação. O que leva a alma (espírito) a se perder é o trabalho desordenado.
Habitar o próprio eu, comenta Bernard Sève, é o projeto de Montaigne: viver em repouso, longe das agitações do mundo, retirar-se da pressa do mundo "para se conquistar, passar do negotium ao otium", do negócio ao ócio.
É isso que podemos ler na inscrição que Montaigne mandou pintar nas paredes da sua torre: "No ano de Cristo de 1571, aos 38 anos, vésperas das calendas de março, dia de aniversário de seu nascimento, depois de exercer longamente serviços na Corte (Parlamento de Bordeaux) e nos negócios públicos [...] Michel de Montaigne consagrou este domicílio, este tranquilo lugar vindo de seus ancestrais, à sua própria liberdade, à sua tranquilidade, ao seu 'loisir' (otium)".
Eis que Montaigne recolhe-se ao ócio reflexivo, com um espírito criativo leve e vagabundo. Como escreve Sève, um Montaigne distante das pressões políticas e das injunções do trabalho burocrático, com o espírito já amadurecido, "construído pela vida, espírito prestes ao fecundo exercício de uma ociosidade inteligente e feliz". Mas interpretemos com cuidado esse afastamento do mundo.
Se a vida teórica aparece mais compensadora, é porque Montaigne não encontrou na vida prática -social e política-, no Parlamento de Bordeaux, aquilo que buscava. À diferença dos comuns, Montaigne não procurava satisfação no reconhecimento social e político. No ócio, preferiu a busca da verdade às coisas da política.
Sua "contemplação" teórica é discursiva, isto é, transforma-se em atos de pensamento e, portanto, em atividade prática. Nascem aí os monumentais "Ensaios".

FOUCAULT A aliança entre capital, igreja e disciplina militar para regular o trabalho tem história. Em um curso de 1973, ainda não publicado, Michel Foucault (1926-84) narra a institucionalização do trabalho através da "fábrica-caserna-convento" no final do século 19. Ele descreve as regras de uma comunidade fechada de até 400 trabalhadores: acordar às 5h, 50 minutos para toalete e café, trabalho nas oficinas das 6h10 às 20h15, com uma hora para as refeições. À noite, jantar, reza e cama às 21h. Só no sul da França, 40 mil operárias trabalhavam nessas condições.
O trabalhador é fixado no aparelho produtivo, no qual "o tempo da vida está submetido ao tempo da produção". Vemos nessa experiência uma mudança essencial que nos interessa porque se torna mais aguda e determinante no trabalho hoje: "da fixação local a um sequestro temporal". Ou melhor, da ideia de controle do espaço no trabalho à ideia de controle do tempo.
O trabalho sequestrou o tempo. Se, no século 19, o controle do tempo era apresentado ao operário como um "aprendizado de qualidades morais" que, na realidade, significava a integração da vida operária ao processo de produção, hoje o controle é aceito com naturalidade, e até mesmo desejado.
O homem se integra voluntariamente "a um tempo que não é mais o da existência, de seus prazeres, de seus desejos e de seu corpo, mas a um tempo que é o da continuidade da produção, do lucro".
A reivindicação de tempo livre tornou-se quase que palavra de ordem subversiva: "Preciso tanto de nada fazer que não me resta tempo para trabalhar", conclama Pierre Reverdy, citado no prefácio ao livro de Denis Grozdanovitch "A Difícil Arte de Quase Nada Fazer".

TRABALHO CEGO A mobilização veloz e incessante do trabalho cego não permite ao homem dizer qual é o seu destino e muito menos o que acontece. Ele não dispõe de tempo para pensar e muito menos tem consciência de que seus gestos, no trabalho, produzem muito mais do que os objetos que fabrica.
Há um excedente invisível, entendendo-se por "excedente" tudo o que não é mensurável, que produz catástrofes através do trabalho "normal e produtivo" e se manifesta na poluição, nos desastres ecológicos, no esquecimento e na desconstrução de si.
Como nos lembra Robert Musil em "O Homem sem Qualidades", foi preciso muita virtude, engenho e trabalho para tornar possíveis as grandes descobertas científicas e técnicas, graças aos sucessos dos "homens de guerra, caçadores e mercadores". Tudo isso fundado na disciplina, no senso de organização e na eficácia do trabalho, o que talvez pudesse ser resumido assim: o trabalho mecânico da produção de mercadorias pretende tomar o mundo de assalto, produzindo agitação social e frenesi econômico e consumista, dada a multiplicação de objetos "não naturais e não necessários".
Já o preguiçoso põe-se na escuta de si e do mundo que o cerca.

PENSAMENTO Talvez o mais danoso de todo esse legado para o espírito humano seja a criação de um mundo vazio de pensamento que o ocioso procura preencher. Guardo uma imagem que o poeta e filósofo Michel Deguy me fez ver à janela de seu apartamento, em Paris: um mendigo que dormia 20 horas por dia na escadaria da igreja Saint-Jacques.
Deguy narra essa experiência em um pequeno ensaio com o título "Do Paradoxo": em imagem semelhante, diz ele, também nas escadarias de uma igreja, "a 'Derelitta' de Botticelli está pelo menos sentada, parecendo meditar. Hoje, ninguém medita, como dizia Valéry na figura de M. Teste. Portanto, o mendigo talvez não esteja errado, uma vez que o fato de estar deitado nada muda [...] E quando lembro que Pascal era o pároco da igreja e cuidava dos abandonados, a comparação me perturba: os 'pobres' não são mais como eram -mas os pensadores também não. Portanto, o 'despertar do pensamento'? Nós, você e eu, não queremos dormir. Mas estamos acordados?"
O trabalho técnico, mecânico e acelerado abole o tempo do pensamento, que exige virtudes atribuídas ao preguiçoso: paciência, lentidão, devaneio, acaso -o imprevisto. Em um texto célebre, Valéry nota: "O futuro não é mais como era". Isto é, não há mais o tempo lento do pensamento, momento em que o tempo não contava. Sabemos que é na vida meditativa e lenta que o homem toma consciência da sua condição.

SERES OCULTOS Ora, como escreveu ainda Valéry, o amanhã é uma potência oculta, e o homem age muitas vezes sem o objeto visível de sua ação, como se outro mundo estivesse presente, "como se ele obedecesse a ações de coisas invisíveis ou de seres ocultos".
Essa poderia ser uma boa definição do ocioso. Coisas invisíveis e seres ocultos participando do mundo do devaneio e do pensamento. Mundo do trabalho do espírito, em contraposição ao trabalho mecânico.
As ideias e os valores, lembra-nos Maurice Merleau-Ponty (1908-61), não faltam a quem soube, na sua vida meditativa, liberar a fonte espontânea, não deliberadamente, em direção a fins predeterminados por cálculos técnicos e produtivos. Todo trabalho finito e alienado é pura perda.
Através de uma admirável reversão, o meditativo transforma a desrazão do mundo do trabalho alienado em fonte de razão. Isso porque o trabalho meditativo do ocioso é um trabalho sem finalidade, sem "telos", um trabalho sem fim. O trabalho meditante do ocioso exige muito mais trabalho do que o trabalho mecânico. O trabalho da obra de arte e da obra de pensamento pede um tempo que não pode ser medido pelo relógio.

PREGUIÇOSO Como se pode, então, pensar essa figura que sempre teve péssima reputação? Talvez uma boa definição seja a de um autor inglês, Jerome K. Jerome (1859-1927), em seu livro "Pensamentos Preguiçosos de um Preguiçoso" (1886): "O que melhor caracteriza um verdadeiro preguiçoso é o fato de ele estar sempre intensamente ocupado. De início, é impossível apreciar a preguiça se não há uma massa de trabalho diante de si. Não é nada interessante nada fazer quando não se tem nada a fazer! [...] Perder seu tempo é uma verdadeira ocupação, e uma das mais fatigantes. A preguiça, como um beijo, para ser agradável, deve ser roubada".
Jerome K. Jerome leva-nos a pensar que a preguiça não é coisa passiva. Perder o tempo mecânico dá trabalho e exige enorme atividade do espírito.
O egípcio Albert Cossery é apresentado pela revista francesa "Magazine Littéraire" como o escritor contemporâneo que celebra a preguiça como uma arma de subversão política e como um modo de resistir à impostura das potências. Para Cossery, o exercício da preguiça tem o valor da arte de viver. Mas ele distingue dois tipos de preguiçosos: os idiotas e os reflexivos.
"Um idiota preguiçoso permanece idiota!", escreve. "E um preguiçoso inteligente é quem reflete sobre o mundo no qual vive. Mais você é ocioso, mais tempo você tem tempo para refletir... Esses são os valores da preguiça, que supõe, pois, dupla recusa: nosso mundo imediato e a triste realidade."
Mas o mais radical dos libelos contra o trabalho alienado continua a ser o pequeno ensaio de Paul Lafargue (1842-1911), "O Direito à Preguiça" (1880). "Trabalhem, trabalhem, proletários, para aumentar a fortuna social e suas misérias individuais; trabalhem, trabalhem, para que, tornados mais pobres, tenham mais razões ainda para trabalhar e tornarem-se miseráveis. Essa é a lei inexorável da produção capitalista".
Para Lafargue, o trabalho é invenção relativamente recente, uma vez que os antigos gregos desprezavam o trabalho e deliciavam-se com os "exercícios corporais" e os "jogos de inteligência". Ele critica a moral cristã ao proclamar o "ganharás o pão com o suor do rosto" e ao lembrar que Jeová, "depois de seis dias de trabalho, repousou por toda a eternidade".
Robert Louis Stevenson (1850-94), na "Apologia dos Ociosos" (1877), mostra que o ócio "não consiste em nada fazer, mas em fazer muitas coisas que escapem aos dogmas da classe dominante".

MELANCOLIA A tradição relaciona a melancolia e o devaneio à preguiça. Nisso, mais uma vez, igreja e capital estão juntos. O trabalho é o grande meio que a igreja encontrou para lutar contra a melancolia e a vertigem do tempo livre. Seu lema sempre foi "Rezai e trabalhai", ou seja, só abandonar a oração quando as mãos estiverem ocupadas.
Lemos em um ensaio de Jean Starobinski sobre a melancolia -"A Erupção do Diabo-" que o trabalho tem por efeito ocupar inteiramente o tempo que não pode ser dado à oração e aos atos de devoção: "Sua função", escreve ele, "consiste em fechar as brechas por onde o demônio poderia entrar, por onde também o pensamento preguiçoso poderia escapar". Assim, o trabalho interrompe o "vertiginoso diálogo da consciência com seu próprio vazio".
A crítica que Jean-Jacques Rousseau (1712-78) faz ao trabalho não é diferente. Na sétima caminhada dos "Devaneios de um Caminhante Solitário" (1782), ele busca a solidão, mas procura trabalhar tudo o que o cerca, escolhendo o mais agradável. Não escolhe os minerais porque, escondidos no fundo da terra "para não tentar a cupidez", exigem indústria, trabalho, pena e exploração dos miseráveis nas minas.
As plantas não. A botânica é o estudo de um "ocioso e preguiçoso solitário": "Ele passeia, erra livremente de um objeto a outro, passa em revista cada flor... Há, nesta ociosa ocupação, um charme que só se sente na plena calma das paixões, o que basta para tornar a vida feliz e tranquila. Mas, quando se mistura aí um motivo de interesse ou vaidade, seja para ocupar espaços, seja para escrever livros, ou quando se quer aprender apenas para se instruir ou pesquisar as plantas apenas para se tornar professor, todo o charme da tranquilidade se desfaz; [...] no lugar de observar os vegetais na natureza, ocupa-se apenas com sistemas e métodos".
O que importa hoje, talvez, é propor a luta do progresso contra o progresso; isto é, a valorização do progresso do espírito, a valorização dos valores contra o progresso técnico, esta "ilusão que nos cega". Eleger a quietude, o silêncio e a paciência para conhecer e aprofundar indefinidamente as coisas dadas.
Eis o ócio que Karl Kraus (1874-1936) nos propõe: "Se o lugar aonde quero chegar só puder ser alcançado subindo uma escada, eu me recusarei a fazê-lo. Porque lá aonde eu quero realmente ir, na realidade já devo estar nele. Aquilo que devo alcançar servindo-me de uma escada não me interessa".

"O que importa hoje, talvez, é propor a luta do progresso contra o progresso; isto é, a valorização do progresso do espírito, a valorização dos valores"

"Além de praticar crime contra a sociedade do trabalho, o preguiçoso comete pecado capital. Pela lógica do mundo do trabalho e da igreja, deve sentir-se culpado"

"O trabalho meditativo do ocioso é sem finalidade, sem "telos", um trabalho sem fim; exige muito mais trabalho do que o trabalho mecânico"

"O trabalhador é fixado no aparelho produtivo, no qual "o tempo da vida está submetido ao tempo da produção". O trabalho sequestrou o tempo"


sábado, 23 de julho de 2011

Ele é acusado de dirigir a 150km que vitimou a advogada / WWW.UOL.COM.BR



"[O carro] era um sonho meu. Acho lindo, acho bacana. Sempre gostei desse carro, desde criança. Eu trabalhei, eu ganhei dinheiro, eu compro o que eu quiser."

Isso foi o que ele disse na reportagem da UOL, por isso que me preocupei em registrar essa "fatalidade" como ele mesmo cita no meu blog, pois crianças, devem saber, dinheiro não se pode comprar tudo e nem deve mas a minha preocupação é mais na questão como esse rapaz hoje um homem foi influenciado desde criança? como se dá essa interação dessas novidades que com dinheiro se "pode comprar" mas que com a nossa mente não consiguimos compreender o tamanho da responsabilidade que você têm quando por exemplo você coloca um carro de 600 mil reais nas mãos e ainda anda a 150km cadê? cade a preocupação com a sociedade, com o engenheiro mesmo Marcelo Malvio Alves de Lima, com a advogada Carolina Cintra Santos, quando que nós seres humanos iremos dar mais valores a vida do que os bens materias, quando que nós seres humano iremos desfrutar mais de nossa consciência do que com o simples gosto de poder se divertir coloquando em risco a vida de outras pessoas, quando que nós respeitaremos a vida dos outros na capacidade de sermos mais humanos e ajudar uns aos outros não como se comportou Marcelo no dia do acidente quando a vítima estava morrendo e ele ficou mais preocupado em dizer no celular: " bateram no meu carro... acabaram de bater.."

sábado, 16 de julho de 2011

Bispo da igreja universal incentiva crianças a dar brinquedo / WWW.YOUTUBE.COM





Essa é uma questão importante pois a meu ver mostra como que nem sempre a publicidade é culpada do aliciamento das crianças ao consumo de brinquedos outros fatores como esse a religião também pode ser um influenciador grave, por isso que coloquei que o consumo de brinquedo é uma questão importante na medida que estamos lidando com pessoas indefesas que são as crianças, como um garoto de 9 anos pode ter a responsabilidade e pior entender o que os pais estão passando e ajudando dessa forma? comprando brinquedos para vender para a igreja? nessa linha de raciocínio compreende que nossa sociedade, digo o Brasil e o mundo todo tem muita a que evoluir nas questões sociais que levam a criança ao consumo desordenado, pois como mostra o vídeo a criança irá vender todo o brinquedo e depois ela vai brincar como? importante é termos o equílibrio para dosar se não estamos exagerando demais no que oferecemos as crianças tendo em vista sua fase de crescimentos onde o aprendizado interfere muito na formação de suas personalidade que a apartir disso irão também determinar muito a forma como olham a realidade, o mundo como todo.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Onde o estresse é maior no campo ou na cidade? / FOLHA DE SÃO PAULO


SUZANA HERCULANO-HOUZEL


No campo ou na cidade?



Parece que o cérebro de quem cresce em metrópoles aprende a esperar o pior, em situações de estresse



Tenho a SORTE de morar em um pedaço de cidade grande que até parece interior: prédios baixos, comércio pequeno de rua e, mais importante, duas árvores enormes, que preenchem a vista da janela da sala.
Quando vizinhos, recentemente, tentaram remover as duas árvores, alegando risco de queda durante tempestades, descobri-me defendendo-as ferrenhamente, perturbada muito além do que seria razoável.
Mas até a emoção tem suas razões: aquelas árvores, tão fundamentais para meu bem-estar, são o que me restam de uma sugestão de campo ""e da paz associada a ele.
Viver na cidade tem suas vantagens: mais riquezas e condições de educação, melhor saneamento e serviços de saúde em geral. Mas isso tem seu preço, e não só no bolso. A vida urbana se desenrola em um ambiente social exigente e estressante, que inclui disparidades sociais acentuadas e maiores riscos. E é acompanhada de uma taxa de 20% a 40% maior de distúrbios de humor e de ansiedade do que em moradores de áreas rurais.
Faz todo sentido: o estresse crônico, afinal, é um dos grandes fatores de risco desses distúrbios. Mas seria o ambiente urbano de fato associado a modificações no cérebro relacionadas ao estresse?
Um estudo canadense publicado recentemente na revista "Nature" diz que sim. Enquanto resolviam tarefas de aritmética contra o tempo, os voluntários do estudo, moradores de áreas rurais ou cidades grandes, alguns criados nessas, outros não, tiveram seus cérebros vasculhados pelos pesquisadores atrás de diferenças entre uns e outros. E lá estão elas.
Quem vive atualmente em centros urbanos mostra uma atividade mais exacerbada da amígdala durante o estresse, o que deve levar a uma reação mais forte a ele. Quem foi criado em cidades grandes tem um aumento da atividade do córtex cingulado anterior, uma região envolvida na regulação da atividade da amígdala, de emoções negativas e do estresse.
Quanto maior o tempo passado em cidades grandes até a fase da adolescência, maior a hiper-reatividade do cingulado anterior.
É como se crescer em cidades grandes, não importa para onde se vá depois, fizesse o cérebro aprender a esperar pelo pior em situações de estresse. E só isso: sem estresse, o cérebro urbano não parece diferente do cérebro rural. Para quem insiste em viver em cidades grandes, portanto, fica a dica: se seu cérebro é hiper-reativo ao estresse... fuja do estresse!


SUZANA HERCULANO-HOUZEL é neurocientista

Faculdade de Harvard nos Estados Unidos apontou produtos que mais engordam e emagrecem / WWW.UOL.COM.BR

Uma pesquisa feita pela área de medicina da faculdade de Harvard, nos Estados Unidos, descobriu que a perda de peso vai muito além da dieta e dos exercícios. Fazendo uma análise profunda dos hábitos alimentares de mais de 120 mil pessoas com idades entre 37 e 52 anos, foi possível identificar alimentos que engordam mais e outros que até ajudam na perda de peso, incluindo hábitos que contribuem para uma vida mais saudável.

Os médicos agruparam participantes de outros três estudos, e avaliaram, a cada quatro anos, a relação entre mudanças nos hábitos de estilo de vida e peso. Ao final do estudo, eles encontraram cinco alimentos que são uma grande armadilha para quem quer perder peso e outros cinco que são grandes aliados.

Os alimentos associados ao ganho de peso no período do estudo foram batatas fritas; outras batatas; bebidas adoçadas com açúcar; carne vermelha não processada e carnes vermelhas processadas. Os alimentos ligados ao menor ganho de peso e até mesmo à perda dele - em alguns casos - foram legumes; grãos integrais; frutas; oleaginosas e iogurte.

Os pesquisadores afirmam que a quantidade de gordura total desses alimentos não está fortemente ligada a perda ou ganho de peso, mas sim a qualidade destes.

Além disso, eles notaram que a adoção de outros hábitos, como dormir de 6 a 8 horas por noite, fazer exercícios e assistir menos a TV auxiliaram naperda de peso.

Emagreça mais mantendo um diário sobre a sua dieta
Manter um diário da dieta, anotando tudo o que se come, é mais um artifício que ajuda na redução de peso. A eficácia dessa técnica foi comprovada por uma pesquisa feita nos Estados Unidos. O estudo revelou que quem registra os alimentos que ingere emagrece em dobro.

No Brasil, a técnica é também recomendado por profissionais ligados à saúde alimentar. "Quando anotamos o que comemos, prestamos mais atenção em nossas escolhas. Assim, podemos reduzir o consumo calórico diário. Essa queda pode chegar a 30%", diz a nutricionista Ligia Henriques.

A falta de uma ideia real do total de comida ingerida durante o dia acontece porque a memória tende a ser seletiva quando se trata de pequenas porções. Um docinho que um colega ofereceu, uma bolacha que você mastigou enquanto fechava um relatório e um refrigerante que tomou ao longo da tarde não costumam entrar na conta das calorias ingeridas.

Tudo isso deve estar registrado no diário. Como o objetivo é corrigir equívocos na alimentação e eliminá-los na sequência, o ideal é que você anote em detalhes o que come e bebe. Dentre as anotações devem estar informações como quantas vezes por dia você ingeriu algo, os horários, as quantidades e as sensações relacionadas a cada refeição - se estava com fome antes ou não, se comeu rápido ou devagar, se estava sozinha ou acompanhada, se foi em um lugar tranquilo ou cheio de gente, se ficou satisfeita ou cheia demais etc. Colocar o seu peso, não necessariamente diariamente, mas de vez em quando, também é uma boa saída para controlá-lo. Além disso, caso goste de escrever, você pode estender os assuntos para questões emocionais, que estão quase sempre relacionadas com o sucesso dos regimes.

De acordo com a pesquisa americana, o diário não precisa necessariamente ser feito em um caderno. Somente o ato de registrar o que você comeu, seja em um post-it, em um email enviado para você mesma ou até em um SMS, pode ser suficiente. O essencial é ser disciplinada para não esquecer nada e sincera para não burlar as regras.


A vantagem de manter o controle organizado é que, eventualmente, você pode levá-lo para seu nutricionista analisar. "O profissional consegue extrair informações importantes. É um excelente instrumento para orientar o paciente através dos erros e acertos. Eu sempre calculo o registro e sugiro substituições", conta Ligia.

É bom lembrar que monitorar o que come não é um pré-requisito para emagrecer e, sim, um instrumento. Se você consegue controlar mentalmente seus hábitos alimentares, escrever cada item que ingere pode ser um incômodo extra no mar de preocupações que dietas, inevitavelmente, trazem.